Pesquisar
Close this search box.

O FUTURO TECNOLÓGICO DO PROFISSIONAL OURIVES E AS PROFISSÕES QUE ESTÃO SURGINDO COM O PROCESSO DIGITAL PRODUTIVO DE JOIAS (INDÚSTRIA JOALHEIRA 4.0)

INTRODUÇÃO

As tecnologias e inovações da indústria 4.0 como a Modelagem 3D, a Prototipagem, a Fundição a cera perdida, a Renderização (realidade aumentada) e o uso de Máquinas CNC ao que parece chegaram para ficar e estão revolucionando o processo produtivo de joias no Brasil e no mundo. Embora muitos acreditem que tais tecnologias foram feitas para atender as demandas dos grandes joalheiros fabricante de joias em série, nos últimos anos o uso destas tecnologias vem se intensificando principalmente entre os artesãos ourives e designers autorais que as usam com o objetivo de obterem produtos de joalheria de maior competitividade e lucratividade, tudo isso sem perder a essência de sua arte.


Figura 01. Proprietário da ARTGOLD Sr. Gervásio Fonseca que também é artesão ourives, relata que não consegue mais viver sem a utilização das tecnologias 3D na produção de suas joias. Ele aponta que ganhou   velocidade de produção de suas peças e também em qualidade depois que implantou algumas destas inovações em sua oficina de joias.

No entanto, é fato que talvez em pouco tempo, a imagem do profissional ourives como o conhecíamos mude, passando para um visual cada vez mais tecnológico e com uma bancada mais futurista. Devido ao advento tecnológico conhecido como indústria 4.0, que tem este nome devido ser considerado por muitos como a 4ª revolução industrial, é natural que surjam novas profissões e as antigas necessitem de atualizações. Na indústria joalheira, é fato que nos últimos anos, a busca por profissionais com conhecimentos tecnológicos de produção de joias vem aumentando e tornando-se uma realidade para o setor joalheiro contemporâneo.  


Há pelo menos uma década era comum visualizarmos anúncio de fábricas e oficinas de joias do tipo “precisa-se de Designer de joias”, “precisa-se de ourives”, “precisa-se de cravador”, porém estes anúncios estão mudando e ficando cada vez mais específicos e dando lugar a anúncios do tipo, “precisa-se de designer 3D de joias com experiência no software Rhinoceros ou Matrix”, “Precisa-se de prototipador de joias com experiência em impressoras do tipo DLP ou a laser”, “Precisa-se de técnico em fundição de joias que conheça o método de fundição por cera perdida”.


Dentre as novas profissões que chegaram com a indústria joalheira 4.0, maiores destaque para o CAD Designer de joias e para o Técnico em prototipagem de joias;


C.A.D DESIGNER DE JOIAS OU MODELISTA 3D DE JOIAS

O CAD DE DESIGNER DE JOIAS é um profissional que atua no início do processo digital produtivo de uma fábrica de joias ou oficina, sendo responsável pelos projetos 3D de joias, seleção e controle de arquivos de joias gerados em extensão STL (Stereolithography) que irão para a prototipagem. Vale ressaltar que o Rhinoceros não é o único software de modelagem 3D de joias do mercado, existem também o Matrix, e o Zbrush que também são bastante apreciados pelo setor joalheiro nacional e internacional.

Figura 02. Também conhecido como Modelista 3D de joias, este profissional vem se especializando exclusivamente no desenho 3D da joia com o auxílio do computador (Computer Aided Design). Nesta nova profissão o uso de softwares autocads em sua versão 3D que outrora eram usados apenas por arquitetos e engenheiros como o software Rhinoceros da fabricante americana McNeel em Miami-EUA são fundamentais, eles são usados para produzir desenhos técnicos de joias com mais acurácia como se fosse uma obra de engenharia. Neste sentido, vale ressaltar que algumas escolas de CAD Design de joias na Europa já usam o termo Engenharia de joias para esta nova especialidade.  Na foto ao lado o ourives Anginaldo Gaia proprietário da Gaia Joias é outro ourives que se rendeu as inovações e tecnologias 4.0 de fabricação de joias. Ele está aprendendo desenho de joias no Rhinoceros.


As vantagens do uso deste softwares no desenho do projeto de joias vão além da acurácia, elas têm também um impacto significativo nos cálculos de custos, pois permitem estimar o peso do metal na peça a partir do cálculo do seu volume e densidade do metal a ser usado, e permite obter joias com detalhes tão pequenos quanto um fio de cabelo. É também a partir da modelagem 3D que se tem o protótipo da joia em impressoras 3D e posterior produção em larga escala ou em série, em síntese, é na modelagem 3D onde este novo processo digital produtivo de joias se inicia.


Figura 03. O processo de MODELAGEM 3D DE JOIAS também é responsável por gerar imagens foto realísticas dos projetos das joias que permitirão discutir etapas de produção, logo é função do modelista 3D analisar estas imagens e se for o caso, mudar tamanhos, cores e espessuras de metais bem como selecionar tipos e tamanhos de gemas, entre outras customizações que poderão ser realizadas.

Figura 04. O imageamento foto realístico de joias é uma inovação bem típica da indústria 4.0, esta por sua vez, é também conhecida como “realidade aumentada” ou simplesmente como uma imagem renderizada da joia (render). O software VRay em geral é o mais utilizado no imageamento foto realístico de uma joia, em alguns softwares de modelagem 3D ele já vem embutido como um plugin do software principal, logo não é preciso se preocupar com a compra dele em alguns casos.mageamento foto realistico gerado a partir de um projeto 3D de joias.


Em linhas gerais a prototipagem é o método que traz ao plano físico a joia desenhada virtualmente no computador, e onde o profissional que se especializa nesta profissão é o prototipador ou técnico em prototipagem de joias e tem como ferramenta de trabalho a impressora 3D de alta resolução que pode ser do tipo DLP (Digital Lightning Process) ou a laser. Trata-se também de uma inovação do início do processo digital de produção de joias e que promete diminuição de erros e de tempo na produção, seja de uma única joia ou de uma coleção entre outras vantagens.


Figura 05. Prototipadores de joias colocando os suportes no desenho de uma joia que será levada a prototipagem rápida na impressora 3D da figura ao lado. Neste momento é preciso bastante atenção porque caso uma área do desenho não receba o suporte corretamente o protótipo apresentará defeitos e o trabalho terá que ser refeito.


O prototipador é também uma espécie de avaliador de qualidade e de custos de produção, com o protótipo em mãos ele será capaz de;

  • Contribuir e garantir a redução de tempo de uma produção de joias, por isso o nome de prototipagem rápida de joias.
  • Estimar o peso da peça no metal precioso a partir do protótipo da joia em resina que sai da impressora.
  • Sugerir customizações e mudanças na joia para diminuir o peso, ou corrigir erros quando for necessário.   
  • Relatar ao designer criador da joia as partes da joias que não prototipam se for o caso, bem como esclarecer os motivos e pedir para este consertar estas partes na modelagem 3D e depois reenviar o desenho para a prototipagem.
  • Preparar o desenho para a prototipagem na impressora 3d, e saber colocar os suportes de prototipagem no desenho 3D,
  • Saber os pormenores do software de impressão que vem com a impressora que será usado na prototipagem,
  • Conhecer sobre resinas de prototipagem de joias.
  •  Saber imprimir em resina de fundição direta e saber o melhor momento para usá-la , pois é uma resina de valor acentuado, e que neste caso não é necessário “tirar a borracha da peça”, em geral este tipo de resina é usado em peças com muitos detalhes e exclusivas.
  • Escolher a resina correta para joias de produção em série, existem muito tipos no mercado e conhecer a qualidade destas resinas e saber armazená-las é uma função do prototipador que deve estar antenado com as melhores que estão sendo usadas.

Figura 06. Colar Riviera em ouro 18 com turmalinas coloridas e cujos elos foram desenhados em software de modelagem 3D de joias e prototipados em impressora 3D e depois levados as etapas de revestimento, fundição e acabamento. Uma produção rápida do ourives Gervásio Fonseca da empresa ARTGOLD que relata o seguinte “não tem comparação quando eu fazia a mesma peça de modo totalmente manual, ganhei em qualidade, tempo e custo de produção.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vale ressaltar que o Brasil ainda está na fase de transferência destas tecnologias e inovações 4.0 aos APL’s (Arranjos produtivos Locais) de gemas, joias e metais preciosos. Neste sentido, escolas particulares de CAD Design de joias, alguns SENAIS (Serviço Nacional de Aprendizado Industrial) e escolas particulares de tecnologias e inovações em todo o país estão tomando conhecimento destas novas especialidades da indústria joalheira moderna e passando a ofertar cursos de Modelagem 3D de joias e Prototipagem de joias no níveis Básico, intermediário e avançado, no modo online ou presencial. Em geral, lugares com arranjos produtivos locais de gemas, joias e metais preciosos bem desenvolvidos como é o caso de Limeira, São José do Rio Preto, e capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro que são localidades que possuem diversas empresas com fabricação digital CAD/CAM de produtos de joalheria a oferta destes cursos acontece há pelo menos 10 anos, logo para participarmos com eficiência dessa “cadeia global de valor” baseada no uso destas tecnologias e inovações da indústria 4.0 no país e no mundo, é necessário divulga-las e transferi-las também aos APL’s de gemas, joias e metais preciosos do norte, sul e nordeste do país com a mesma propriedade que está sendo transferida no sudeste para que estas regiões também cresçam e venham contribuir com as estatísticas deste setor.

Sobre o autor: Mauricio Favacho é MSc. geólogo, gemólogo especialista em gemas, joias e metais preciosos, modelista 3D de joias, Fundador e CEO na KARAJAZ- startup de fabricação digital de joias, semijoias e biojoias, e Pesquisador Empreendedor na BioTec Amazônia.

Matéria Publicada na Revista Feninjer – A revista da maior feira de joias e afins da Indústria Joalheira Brasileira. Edição 35.  

Acesse a matéria na revista através do link https://joom.ag/aked/p132

Rolar para cima